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A violência no mundo está diminuindo


Existem quatro categorias de livros: os que não passamos da vigésima página, os que caem no esquecimento, os que marcam e os que transformam. Anjos Bons de Nossa Natureza é um daqueles que estão na quarta categoria: que transformam.

Escrito por Steven Pinker - um dos principais cientistas cognitivos do mundo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva do MIT e professor do departamento de psicologia em Harvard – o livro é um tratado multidisciplinar que passeia de forma leve e natural por áreas como a psicologia, história, antropologia, sociologia, estatística e filosofia, e tem como objetivo principal nos convencer que a violência, ao longo da história, têm reduzido (ao contrário do que o senso comum diz) e justificar os principais motivos para tal. Nos instiga, logo na introdução, ao questionar: “O que poderia ser mais fundamental para nossa concepção de sentido e propósito do que saber se os esforços da raça humana ao longo das eras nos deixaram melhor ou pior?”.

Segundo o autor, seis são as tendências que influenciaram ao longo da história a redução da violência:

(1) processo de pacificação, em decorrência da criação das primeiras sociedades;

(2) processo civilizador, a partir da criação do comércio e da atuação cada vez mais incisiva do estado;

(3) revolução humanitária, que passou a valorizar o ser humano em decorrência da massificação da literatura e do surgimento do Iluminismo, trazendo assim a redução e/ou extinção de práticas como tortura, execuções supersticiosas, punições cruéis, escravidão e despotismo;

(4) longa paz, que é a redução de números de mortes e violência decorrentes de guerras ao longo da história;

(5) a nova paz, que apresenta a diminuição do genocídio e a redução, ainda maior, de afetados por guerras após as duas grandes e;

(6) a revolução por direitos, que foi uma revolução liberal, onde surgiram direitos como os civis, da mulher, da criança, dos homossexuais e dos animais.

Segundo o autor, “uma das grandes descobertas da psicologia evolutiva é que a cooperação humana e as emoções sociais que a sustentam, como a compaixão, a confiança, a gratidão, a culpa e a raiva, foram selecionadas porque permitem às pessoas prosperar em jogos de soma positiva. Um clássico jogo de soma positiva na vida econômica é a troca de excedentes.”

O autor, no segundo grande bloco do livro, nos traz o que ele chama de demônios interiores, ou seja, a parte da natureza humana que nos compele a violência; aquilo que ele chama de lado sombrio. São cinco os nossos demônios: predação, dominação, vingança, sadismo e ideologia.

Já na terceira parte, Pinker apresenta os tão aguardados anjos bons; quatro que segundo o psicólogo representam as características humanas responsáveis pela redução da violência: empatia, autocontrole, moralidade e tabu, e razão.

Sobre a razão, Pinker oferece profunda reflexão: “Não é o suave poder da humanidade, não é esta tênue centelha da benevolência com a qual a natureza iluminou o coração humano, que é portanto capaz de confrontar os mais fortes impulsos do amor-próprio. É um poder mais forte, um motivo mais forçoso, que se faz exercer em tais ocasiões. É a razão, o princípio, a consciência, o habitante de nosso peito, o homem interior, o grande juiz e árbitro de nossa conduta. É ele que, sempre que estamos no umbral de um ato que afeta a felicidade dos outros, nos chama, com uma voz capaz de assombrar a mais presunçosa de nossas paixões, nos diz que não somos mais que um na multidão, em nada melhores que nenhum outro nela; e que quando damos preferência a nós, tão vergonhosa e cegamente, tornamo-nos objetos merecedores de ressentimento, cólera e execração. É apenas dele que aprendemos a real pequenez de nós mesmos, e de tudo que nos diz respeito, e as naturais deformações do amor-próprio podem ser corrigidas unicamente pelo olhar desse imparcial espectador. É ele que nos aponta a justeza da generosidade e a deformidade da injustiça; a correção da renúncia aos nossos maiores interesses, em favor dos ainda maiores interesses dos outros, e a monstruosidade de se fazer o menor dano a outro ser a fim de obter o maior benefício para nós.”

Por fim o autor finaliza sua magistral obra com as cinco forças históricas que tem exercido a redução da violência no mundo: o leviatã, o comércio gentil, a feminização da humanidade, o círculo de empatia expandido e a escada rolante da razão.

Trata-se de uma obra essencial para a compreensão ampla de humanidade, sociedade e relações interpessoais. Obra transformadora!

Para Pinker, “Descobrir caminhos terrenos que permitam aos seres humanos florescer, inclusive estratagemas que superem a tragédia do apelo agressivo inerente, seria um propósito suficiente para qualquer um. [...] Ora, enquanto este planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continua a percorrer sua órbita, esta espécie vai também achando meios de trazer os números para baixo, permitindo que uma parcela sempre maior da humanidade viva em paz e morra de causas naturais. Com todas as tribulações de nossa existência, com todos os problemas que subsistem no mundo, o declínio da violência é um resultado que podemos saborear, e um impulso que nos faz ter apreço pelas forças da civilização e das luzes que o tornaram possível.

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