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Foto do escritorGabriel Cardoso

Os 3 primeiros passos para se tornar um agente de mudança


Porque nós, brasileiros, somos tão pouco envolvidos na solução dos problemas nacionais? Porque você convive com os problemas da sua cidade e nunca atuou para mudá-los? Porque somos tão bons em reclamar e tão ruins em solucionar?

Alterar três valores de referência que usamos em nosso cotidiano, pode ser o primeiro passo para se tornar um agente de mudança.

1. Valores de referência

Nosso tão esperto cérebro cria alguns padrões, os famosos modelos mentais, que utilizam valores como referência para as decisões diárias que tomamos, fazendo com que poupemos energia e tempo. Logo nossas atitudes, ações e omissões, no dia a dia, são baseadas em tais valores de referência que servem como guias que nos conduzem e modelam o comportamento.

Aos poucos, passamos a nos vincular a tais padrões que se inserem e se misturam em nossa própria personalidade e inconscientemente passamos a nos identificar com eles. Eis que aqui surge a primeira grande dificuldade que temos para lidar com mudanças: atuar contra um valor de referência, arraigado em nossa personalidade.

Veja o exemplo: Por que é tão difícil fazer dieta? Porque quando fazemos, encaramos como um sacrifício! Você pode perceber que a palavra dieta carrega em nossa cultura uma carga negativa, de esforço e sofrimento. Isso ocorre porque nosso valor de referência diz que a função da comida é nos dar prazer. Logo, comer algo que não ofereça prazer é se sacrificar.

Se quisermos alterar um comportamento inadequado, uma sugestão é não buscar a mudança do comportamento em si – “vou parar de comer doces” – e sim visar a alteração do valor de referência ligado ao comportamento. Nesse caso, compreender que a comida tem a função principal de manutenção do bem-estar e da qualidade de vida – ao invés de prazer. Naturalmente passarei a encarar a alimentação saudável como algo natural e não como um sacrifício.

Mudei o valor de referência, mudei o comportamento.

Compreendendo o que são valores de referência, e como eles influenciam nossa rotina, podemos buscar alguns que estão arraigados em nossa cultura e que fazem com que o brasileiro seja, digamos, desligado dos problemas do próprio país.

Despretensiosamente, credito esse tipo de comportamento a três valores de referência incrustados em nossa sociedade, e que você precisa mudar, caso os tenha e pretenda se tornr um agente de mudança:

· A referência que temos de responsabilidade.

· A referência que temos de nossa influência na construção do futuro.

· A referência que temos com os piores exemplos.

2. A referência que temos de responsabilidade

“Todos somos responsáveis de tudo, perante todos. E eu mais que todos os outros”.

Fiódor Dostoiévski

Há um problema grave na sociedade brasileira: exigimos excessivamente Direitos e esquecemos, ou fingimos esquecer, de cumprir com os nossos Deveres. Muitos especulam que isso é fruto da Constituição de 1988, a chamada “Constituição dos Direitos”.

Ocorre que nós, cidadãos, possuímos igualmente Direitos e Deveres. E se possuímos Deveres, possuímos também responsabilidades: responsabilidade pelos nossos atos, por aquilo que fazemos ou deixamos de fazer, e responsabilidade pelos rumos da sociedade que vivemos; por nossa parcela de contribuição na sua construção ou destruição.

Quanto à responsabilidade individual, a primeira e urgente compreensão é que estamos onde estamos como consequência de todas as decisões que tomamos. Independentemente da situação que você tenha nascido, viva, ou esteja vivendo, você tem nas próprias mãos o poder de decidir o que irá fazer diante dela. E, certamente, colher as consequências de seus atos. Se vitimizar, ou aceitar que te vitimizem, é o primeiro passo para retirar de si a responsabilidade de conduzir e construir o próprio futuro.

Quanto a responsabilidade coletiva, nos é necessária a compreensão de que somos parte do todo, portanto precisamos contribuir positivamente em prol dele. Compreender nosso papel na sociedade e nosso quinhão de responsabilidade pela sua situação atual é algo que por vezes nos escapa. Somos, como sociedade, corresponsáveis pela atual situação em que ela se encontra. Daquilo que nos foi herdado e que não nos agrada, o que temos feito para mudar?

Há uma desconexão do brasileiro com o próprio Brasil: ele culpa o político, a vizinha, o síndico, o marido, a esposa, o professor, o carteiro, o próprio brasileiro, só não culpa a si. E há, portanto, um erro nessa fórmula: se todos acham que não têm culpa, não há culpados pelos nossos problemas.

Por que é que um brasileiro joga lixo na rua e não joga em sua casa? Porque há aí uma falha de raciocínio. Acredita que (1) a rua é um local público; (2) se é público, é de todo mundo; (3) e se é de todo mundo, não é dele. Quando deveria pensar que, se é de todo mundo, a rua é dele também. A inserção de si no todo é o que por vezes nos falta: a responsabilidade coletiva; a nossa responsabilidade para com a sociedade que vivemos.

Sendo assim, os primeiros valores de referência que você precisa corrigir para se tornar um agente de mudança são relacionados à responsabilidade individual e à responsabilidade coletiva.

Mudar

(a) de: “exijo meus direitos” para “exijo meus direitos desde que eu tenha cumprido meus deveres;

(b) de: “o que é público não é meu e não tenho responsabilidade” para “o que é público também é meu e tenho responsabilidade”.

3. A referência que temos de nossa influência na construção do futuro.

“Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado...

Resignação para aceitar o que não pode ser mudado...

E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”

Oração atribuída a São Francisco de Assis

As pessoas se dividem em dois grandes grupos: aquelas que acreditam que suas ações individuais têm força para influenciar o coletivo, e aquelas que pensam que suas ações são pequenas demais para isso e, portanto, não interferem no coletivo. Para facilitar, vamos chamar esses dois grupos de: “eu não influencio” e “eu influencio”.

O grupo do “eu não influencio” acredita que suas competências são fixas, que o mundo não permite que eles possam melhorá-las e, por isso, alcançar alguns objetivos parece impossível. Se alguém desse grupo tentar fazer algo que não dá certo, concluirá que não é bom naquilo e que nunca será. Esse grupo pensa que nasce com competências inatas e que estas nunca mudarão. Todos nós temos o modelo mental desse grupo em certas áreas da vida: uns mais, outros menos.

As pessoas do grupo “eu influencio” tem um modelo mental diferente e acreditam que suas competências são moldáveis de acordo com a própria iniciativa. Se alguém desse grupo tenta algo que não dá certo, é porque ainda não fez da forma que deveria ou não se preparou adequadamente. Mas isso não interrompe as tentativas, pelo contrário: faz com que tais indivíduos se analisem e se preparem para que a próxima tentativa seja bem-sucedida. Este grupo acredita que suas competências são como músculos: crescem de acordo com o uso. Não é porque uma experiência é difícil e dolorida que a pessoa irá desistir dela.

No Brasil -- e no mundo também -- temos mais pessoas do grupo “eu não influencio” do que do grupo “eu influencio”. E você, em qual grupo está? Qual o seu valor de referência?

Para se tornar agente de mudança, fica claro agora, que você precisa ter como valor de referência aquele do segundo grupo: eu influencio.

O famoso e bem-sucedido empreendedor Flavio Augusto, do canal Geração de Valor, vem fazendo um excelente trabalho ao auxiliar brasileiros a passarem dodo primeiro para o segundo grupo. Recomendo sua página!

4. A referência que temos com os maus exemplos e a temível zona de conforto

“Eu desejo a todos, a cada um de vocês, que tenham seu motivo de indignação. Isto é precioso. Quando alguma coisa nos indigna nos transformamos em militantes; fortes e engajados, nos unimos à corrente da história, e a grande corrente da história prossegue graças à cada um de nós”.

Stéphane Hessel

Há uma verdade universal que acompanhou a evolução do homo sapiens e está presente até os dias de hoje: o ser humano busca a economia de energia e por isso é, na maior parte das vezes, acomodado. Conhecida popularmente como zona de conforto, a economia de energia, somada à influência dos maus exemplos, é perigosa, pois nos torna pessoas reativas, que só reagem aos acontecimentos, ou mesmos inativas – ao invés de ativas ou proativas.

Se você acredita que saúde, vida profissional, social e familiar bem como os demais aspectos de sua vida estão bem; que seu país, estado e cidade não precisam de mudanças; que sua sociedade é exemplar e está satisfatória, jamais você fará esforço para mudá-las. Por que faria se está tudo bem? Para sair da zona de conforto, agir, e se esforçar em prol de algo, é necessário se colocar de forma crítica perante a vida e se pautar pelos melhores e mais bem-sucedidos exemplos. A referência que precisamos ter em nosso cotidiano são as melhores, os mais positivo exemplos s e as mais nobres inspirações.

É a partir da constatação de valores de referência mais elevados que você poderá sair da zona de conforto e passar a agir em prol de uma situação melhor que a atual, tornando-se um agente de mudança.

5. Agindo para impactar

É claro que para se tornar um agente de mudança não basta só alterar esses três valores de referência que apresentei. Conhecimentos, habilidades, outros valores e atitudes, que formam as competências de um empreendedor social, devem ser construídas harmoniosamente, como falei no livro Mude, Você, o Mundo: manual do empreendedorismo social. Mas acredito que o ponto de partida é na construção, ou correção, dos valores citados.

A solidariedade, o altruísmo e outros valores mais nobres também são importantes. A inserção da mudança dentro do contexto do capitalismo consciente (ou responsável) também é outro aspecto. Mas deixarei esse e outros temas para uma próxima postagem.

A construção da realidade se inicia nas ideias. O empreendedor social precisa, antes de tudo, possuir valores de referência adequados. A partir daí ele terá dado o primeiro passo para mudar o seu mundo e, quem sabe, o mundo dos demais.

Fraternal abraço!

Gabriel Cardoso

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