Publicado originalmente no portal Impacta Nordeste
Recentemente assisti a um vídeo de uma ministra do STF dizendo algo como: não me preocupa o crescimento da inteligência artificial e sim o crescimento da desinteligência natural.
Eu concordo com ela, em partes. Assim como me preocupa o crescimento da desinteligência natural, fico ansioso com o crescimento da inteligência artificial (IA).
A inteligência artificial e o seu filho mais famoso, o ChatGPT, talvez sejam um dos assuntos mais quentes do último ano: e com razão. Além dos seus aspectos e consequências políticas, sociais e econômicas, quero trazer uma lente micro para este texto: seu uso para fins pessoais e profissionais no terceiro setor.
Ressignificando e reconstruindo outros setores, a influência da IA no empreendedorismo social e no terceiro setor já é evidente, irreversível e inevitável. No entanto, tenho percebido que a discussão sobre o seu uso e suas consequências ainda são incipientes e, em muitos casos, até subvalorizadas.
É verdade que podemos optar por negligenciar essa mudança e agir como aqueles que resistiram ao uso de calculadoras, preferindo fazer contas no papel. Alternativamente, podemos abraçar o desconforto da mudança, dedicando tempo, atenção e espaço para tornar a IA uma parte natural de nossa prática profissional.
No segundo caso, tenho me perguntado no último ano e meio como podemos fazer isso de forma gradual e concreta, porém massiva. Não tem sido fácil, pois a resistência é grande e vem de duas fontes: uma aceitável, que é decorrente da própria exclusão digital e outra, menos aceitável, que é decorrente da resistência humana ao novo (às vezes carregada da ironia da ignorância, o que é mais cruel).
Que tal começar com o básico e separarmos tempo, dentro de nossa agenda, para que possamos co-construir com nossos colegas, soluções para os próprios desafios com o uso de IA, onde os mais hábeis mentoram os menos hábeis, por meio de instrução por pares?
Se 10 a cada 10 organizações do terceiro setor ainda enfrentam desafios de captação de recursos, que tal implementarmos em nossa organização um projetos-piloto de IA estruturando um robô de captação de recursos customizado, a partir de editais e regras previamente carregados?
Ao adotarmos uma abordagem mais equilibrada, entre competências usuais e novas competências, podemos garantir que a IA não substitua, mas complemente e potencialize as capacidades humanas, impulsionando o terceiro setor para que entregue com cada vez mais efetividade soluções para os desafios socioambientais que enfrenta. Assim, acredito que desenvolveremos a inteligência artificial e diminuiremos a desinteligência natural que a ministra citou.
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