Nestes últimos dez ou quinze dias de crescimento da crise, iniciada pelo Covid-19, tenho sentido uma necessidade forte e constante de escrever sobre tudo que aí está.
Escrever, talvez, sobre a falta de liderança (ou liderança irresponsável?) que o país sofre para o enfrentamento da crise.
Discorrer sobre as dores e os desafios que os empreendedores brasileiros estão enfrentando e sobre o cenário, sem horizonte, que se avizinha para a nossa economia.
Relatar sobre o papel da China na crise e sobre o comportamento e a reação da comunidade internacional diante disso.
Alertar sobre uma crise oculta, menos lembrada que a crise de saúde causada pelo vírus ou a crise econômica, consequência dele, que é a crise emocional que todos estamos vivendo (e que ainda viveremos, provavelmente).
Reclamar da crise política que se instalou e se tornou, por incrível que pareça, mais evidente do que a crise de saúde e econômica que vivemos.
Redigir sobre as pessoas egoístas que lotaram suas despensas e geladeiras com comida, álcool em gel e papel higiênico ou destacar e elogiar as pessoas e empresas que estão cobrindo os quatro cantos do país com atos de altruísmo e generosidade.
Sintetizar em textos mais palatáveis o amontoado de dados e informações científicas que circulam soltos e livres nas redes sociais, gerando mais confusão do que conhecimento.
Apontar que um dos maiores aprendizados que, ao final, o vírus deixará às pessoas, às organizações, às regiões, aos países, e, claro, à humanidade, é a total interconexão e interdependência que existe de (e entre) tudo e todos.
Explorar os possíveis novos modelos de trabalho e educação que surgem, à força, com a crise, suas vantagens e algumas dicas para a transição, mostrando que muito do que parece novidade para alguns, já era realidade para outros.
Destacar que o mundo precisará, mais do que nunca, de empreendedores sociais e iniciativas que tenham um duplo, mas unificado, horizonte: econômico e social -- assim como a solução para essa crise que vivemos.
E, mais importante, discorrer sobre o grande ponto de inflexão que vivemos enquanto humanidade e que a direção dessa inflexão será ditada pelas nossas decisões de agora.
Mas eu desisti.
No lugar de escrever, escrever e escrever, talvez aumentando essa nuvem escura, pesada e sufocante de informação que estamos atravessando, decidi parar, respirar, olhar para dentro de mim e lá encontrar a impermanência de tudo.
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