Publicado originalmente no InovaSocial
Ainda no processo de adoção, aprendizagem e potencialização do ChatGPT na minha vida cotidiana, assisti a trechos do lançamento do novo gadget da Apple que tem o potencial, assim como a inteligência artificial, de mudar a forma como nos relacionamos, nos comportamos e trabalhamos. Se você não viu ainda, se trata de um headset de realidade expandida.
Embora a realidade virtual (RV), a realidade aumentada (RA) e a realidade expandida (RE) combinem elementos virtuais e reais, existem diferenças importantes entre elas. A RV cria um ambiente virtual completamente imersivo, enquanto a RA sobrepõe informações digitais ao mundo real. Já a RE é um termo mais amplo que abrange os anteriores, além de outras tecnologias imersivas. Cada uma dessas tecnologias tem suas próprias aplicações e possibilidades de uso, mas todas oferecem experiências interativas e envolventes em diferentes graus.
E que tipos de oportunidades, consequências e impactos sociais, positivos e negativos, podemos ter a partir da massificação da realidade expandida em nossas vidas? Tentei fazer um exercício de imaginação e predição em dois setores que tenho mais vivência: educação e saúde (estes relacionados com os objetivos de desenvolvimento sustentável 4 e 3, respectivamente).
Na educação, a realidade expandida poderia apoiar o tratamento, a inclusão e a aprendizagem de pessoas neurodivergentes (autismo, TDAH etc.). Também poderia facilitar a aprendizagem de pessoas com dificuldades específicas (dificuldades de leitura, dislexia, habilidades lógico-matemáticas, inteligência espacial etc.). Poderia, ainda, facilitar atividades de pessoas com deficiência (restrição de movimentos, surdez, deficiência visual etc.), além de contribuir para questões éticas, como a superação de vieses raciais, de gênero e outros. Já olhando o copo meio vazio, as consequências negativas da popularização da tecnologia podem passar pelo aumento da desigualdade nas instituições e sistemas educacionais e o surgimento de novas interações sociais de risco, por exemplo.
De forma prática, ainda na educação, a realidade expandida oferece um mundo de possibilidades, tais como: treinamentos processuais simplificados; desenvolvimento acelerado, lúdico e imersivo de soft skills; relação interativa e imersiva com artes e design; simplificação da aprendizagem colaborativa; surgimento de novos ambientes de aprendizagem em termos de espaço, participantes e métodos; aceleração da aprendizagem de idiomas (ou tradução instantânea em cursos); viagens de campo virtuais a museus e galerias (ou viagens geográficas, no tempo e históricas).
E na saúde? Aqui a realidade expandida poderia contribuir com o aumento de eficiência e da precisão de processos e métodos; ampliar o acesso à saúde de pessoas vulneráveis, excluídas ou isoladas; auxiliar na redução da percepção de dor e na ansiedade de procedimentos; suportar o tratamento diário de pacientes crônicos; tornar lúdico procedimentos em crianças; aumentar a qualidade de vida de pacientes idosos. Como consequências negativas, a desigualdade surgiria mais uma vez; a RE poderia criar riscos éticos e de privacidade até então inexistentes; e oportunizar o surgimento de novos erros médicos.
De forma prática, ainda na saúde, a realidade expandida terá aplicações no ensino e na prática de cirurgias; na análise e no diagnóstico de exames; na educação de pacientes e cuidadores; nos tratamentos e nas terapias para pacientes com problemas ou transtornos de saúde mental; na reabilitação e aprimoramento cognitivo; e na melhoraria do bem-estar e da promoção de estilos de vida saudáveis.
Esse exercício imaginativo e propositivo é útil em muitos aspectos, em especial para nos direcionar na atuação proativa e preventiva de problemas sociais, e menos reativa: como historicamente temos nos comportado no uso das tecnologias para impacto social.
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