A mudança é a única inevitável, irresistível e contínua realidade do universo. Octavia Butler
Kevin Kelly, em sua obra ‘Inevitável’, apelidou este período histórico que vivemos de “era do tornando-se (becoming era)”. Já li de outros autores que estamos na “sociedade beta”, uma alusão a versão incompleta e em constante evolução de um sistema operacional qualquer.
Atualmente, as mudanças estão mais aceleradas, mas a ideia não é nova. Heráclito de Éfeso (540 - 470 a.c) já falava que o mundo é um eterno devir. Já o Budismo tem a impermanência como um conceito-chave, afirmando que tudo é impermanente, transitório e tende a mudar.
A clareza e aceitação de que a mudança é uma constante na vida e que atualmente ela está — ou parece estar — mais acelerada e complexa do que em outros períodos, deveria nos colocar em uma constante posição de novatos perante a realidade. Talvez mais: seremos novatos para sempre, até o fim de nossas vidas.
Se a hipótese fizer sentido, precisamos ter (ou buscar) pelo menos três grandes capacidades nessa jornada que estamos, até os últimos dias, para viver de uma forma um pouco mais leve. E quais são elas?
Atenção ao presente
Se entendermos que o passado é memória e o futuro é imaginação, só o presente existe. É nele que sua vida ocorre. Em outras palavras, é a atenção ancorada nele, a maior parte do tempo, que proporcionará sua mente no mesmo espaço geográfico e temporal do corpo, eliminando turbulências desnecessárias e ruídos exagerados, vindos do passado e do futuro.
Humildade
Se somos uma versão beta e estamos constantemente ‘nos tornando’, precisamos ter uma profunda humildade perante a vida e o outro. Pressupõe, o mais frequente e sinceramente possível, compreendermos que nosso conhecimento e nossas virtudes são limitados e incompletos. O título acadêmico, o cargo que ocupamos, o bem que realizamos e as experiências que vivemos são o todo de nossa vida, mas apenas uma infinitésima parte da vida humana.
Capacidade de aprender e reaprender
Tornando-se ou sendo uma versão beta, e ancorados no presente, percebemos, com humildade, que precisamos aprender todo dia. Não falo somente da aprendizagem formal, escolar. Falo especialmente da prática humana que envolve ser curioso; estar aberto ao diferente e novo; lidar bem com ambiguidade; (re)organizar, (res)significar e aprimorar informações. É capacidade que revigora, regenera e aprimora o nosso conhecimento, minuto a minuto, podendo, quem sabe, em algum ponto, nos aproximar da sabedoria.
A sabedoria não está se tornando, não é beta e nem impermanente: é atemporal. Talvez a sabedoria seja uma das poucas exceções a mudança constante da vida.
Tudo que você toca, você muda. Tudo o que você muda, muda você. A única verdade perene é a mudança.

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