Em 2022 comecei a ler 102 livros, de todos os gêneros, sendo 76 físicos e 26 digitais.
Concluí a leitura de 73 e abandonei 29, afinal, a vida é muito curta para ler livros ruins.
Dos concluídos, eu separei os 15 melhores livros, entre os quais 10 merecem uma releitura.
15o a 11o
15o
A cama de procusto, de Nassim Nicholas Taleb (Aforismos)
"Metade da imbecilidade é não perceber que aquilo que você não gosta pode ser amado por outra pessoa (e, consequentemente, por você mais tarde), e o contrário também".
Esse é apenas um da coletânea de pensamentos e aforismos do renomado autor. No livro, questiona ilusões humanas, aponta defeitos da civilização moderna e provoca reflexões muito originais que variam de áreas como academicismo, estética, probabilidade e ontologia.
14o
O palhaço e o psicanalista, de Cláudio Thebas e Christian Dunker (Comunicação; Psicologia)
Num mundo em que todo mundo quer falar (e escrever) e poucas pessoas querem ouvir, os coautores mesclam experiências, reflexões e casos sobre a arte da escuta.
O livro é organizado em 46 breves textos (ensaios, casos, crônicas e contos) que alternam a autoria.
13o
O luto é outra palavra para falar de amor, de Rodrigo Luz (Psicologia)
Este ano tive duas perdas importantes e li muito sobre a morte e o luto. Mesmo sendo algo inato, a morte não é um tema tratado com naturalidade em nossa cultura, talvez por ser um acontecimento devastador.
Nesta obra, o autor explora de forma leve, empática e cuidadosa as fases do luto, assim como compartilha maneiras de honrarmos aqueles que amamos, mas já partiram.
12o
A pediatra, de Andréa del Fuego (Literatura nacional - romance)
Como funcionaria a cabeça de uma pediatra que não gostasse de crianças (e nem dos pais)? Essa é a personagem que sustenta o livro de escrita concisa e bem-humorada de Andrea Del Fuego, nome forte da literatura brasileira contemporânea.
11o
Salvatierra, Pedro Mairal (Literatura latino-americana - romance)
O autor argentino é um dos grandes expoentes da literatura latino-americana contemporânea.
Miguel, o protagonista do livro, é filho de Juan Salvatierra, um pintor mudo, humilde e autodidata, que deixou uma misteriosa obra de arte como herança: um imenso mural de quatro quilômetros de rolos de tecido, feito em segredo até o dia que morreu.
O enredo se desenvolve em torno da descoberta da herança e da interpretação de seu significado que se mistura com lembranças e histórias de vida da família do protagonista.
10o a 6o (merecem releitura)
10o
A morte de Ivan Ilitch, Liev Tolstói (Literatura russa - novela)
Clássico da literatura mundial que explora o sentido da existência a partir da vida e morte de um juiz.
Percorre breve, mas intensamente, o casamento, filhos, carreira, sucesso na vida pessoal e profissional, chegada da doença, relação com os médicos, isolamento emocional perante a finitude, negação, sofrimento e desespero com a aproximação da morte, busca de sentido, o fim e a reação dos familiares e amigos no velório, que é onde o livro se inicia.
Profundamente marcante.
9o
Thinking in systems, Donella H. Meadows (Desenvolvimento Sustentável)
Recentemente traduzido e publicado para o português, é uma obra clássica sobre o pensamento sistêmico e seu uso na resolução de problemas sociais, ambientais, políticos, empresariais, ambientais, pessoais (que sistemicamente não estão tão separados assim...).
Apesar de escrita há mais de 30 anos, a obra continua relevante e útil, especialmente para navegar no Antropoceno e interpretar fenômenos contemporâneas.
Livro que apresenta, explora e exercita uma forma específica de interpretar a realidade e nos lega a importância da humildade diante do (des) conhecido.
8o
Quando deixamos de entender o mundo, de Benjamín Labatut (Inclassificável)
Dificilmente você vai interromper a leitura deste livro antes de terminar. O chileno Labatut embrulha fatos científicos em uma narrativa semificcional e entrega um texto marcante, visceral, contraintuitivo e às vezes até perturbador.
Não se contenta com a indiscutibilidade da importância da ciência ao explorar, sem dogmas, os limites que ela pode chegar -- e ultrapassar.
7o
O livro das semelhanças, de Ana Martins Marques (Poesia)
Houve um tempo em que usava / nos livros / papel de seda para separar / as palavras e as imagens.
Havia alguns anos que eu não lia um livro poesia e de certa maneira este livro chegou em minhas mãos. Feliz surpresa foi conhecer Ana Martins Marques em um ano tão desafiador. Gostei tanto do livro e da autora que já li, na sequência, 'Risque esta palavra' e 'A vida submarina', mas este aqui ainda foi o melhor.
6o
A doença, o sofrimento e a morte entram num bar, de Ricardo Araujo Pereira (Comunicação; Humor)
Este é um livro que explora o que é e não é o humor. Vai além: examina como olhar, encontrar, pensar e fazer humor, escrito por um jornalista e humorista português.
Referência que chegou a mim por meio de um outro português que admiro -- Miguel Esteves Cardoso--, li em um único dia pela linguagem fluida, objetiva e engraçada, assemelhando a de um manual.
O livro ainda leva um outro mérito pelo charmoso trabalho editorial da Tinta da China.
5o a 1o (cabeceira)
5o
Além da ordem, Jordan Peterson (Psicologia; Autodesenvolvimento)
Depois de '12 Regras para a Vida -- um antídoto para o caos', Jordan Peterson escreveu esta espécie de continuação, cujo subtítulo é 'mais 12 regras para a vida'.
Intelectual e polímata, seu texto usa a Psicologia Clínica, a Mitologia e a Religião como principais fontes. Sua escrita é rude e direta, cujo resultado é um conteúdo original, provocativo, contraintuitivo e acionável.
Em tempos de polarização doentia, este livro é uma provocação para o equilíbrio dos dois princípios fundamentais da realidade ― ordem e caos: enquanto o excesso de caos nos ameaça com a incerteza, o excesso de ordem pode nos levar à ausência de curiosidade e de vitalidade criativa.
4o
Hábitos atômicos, de James Clear (Autoajuda)
Se você é daquelas pessoas que usam o termo autoajuda de forma pejorativa, provavelmente este livro fará você rever seus hábitos -- literalmente.
Este é um manual claro, conciso e útil para trocar hábitos maus por hábitos bons, em todas as áreas da vida. Apesar da simplicidade na escrita e da aparente superficialidade, o livro é baseado em evidências dos campos da Biologia, Neurociência e Psicologia. Aliás, um dos principais méritos do autor: traduzir tópicos complexos em um método prático e relevante.
Comece 2023 com novos hábitos.
3o
Four thousand weeks, de Oliver Burkeman (Gestão de tempo)
Recentemente traduzido e publicado em português, reflete sobre como usar bem o tempo que temos de vida: cerca de quatro mil semanas.
A noção habitual de que “temos” tempo é de início revertida na lógica de que “somos” tempo. Em vez de apresentar os usuais hacks de produtividade e administração de tempo, o autor prefere um caminho menos operacional e mais lúcido, explorando assuntos como finitude, armadilhas da eficiência, procrastinação, presença, (des)atenção e outros que influenciam a nossa relação com o tempo.
2o
O caminho quádruplo, Angeles Arrien (Religião Comparada; Autodesenvolvimento)
Há indicações que nos chegam e são surpreendentes pelo impacto que causam em nossas vidas. Este foi um livro que me ajudou a enfrentar alguns desafios no ano.
Explora elementos de autoconhecimento e autogestão a partir de conhecimentos de povos originários e tradições xamânicas, indicando o caminho quádruplo que podemos percorrer em diversas circunstâncias da própria vida: guerreiro, mestre, curador e visionário.
Muito útil para quem exerce papel de liderança, seja em organizações, comunidades, projetos, no lar ou na religião.
1o
O livro do desassossego, Fernando Pessoa (Literatura portuguesa)
Clássico transformador da literatura mundial, recheado de sabedoria, escrito com a combinação de poesia e filosofia.
Centenas de fragmentos sem encadeamento narrativo, sem fatos e sem noção de tempo, mas com uma profunda sensibilidade e validade atemporal para perceber, observar e refletir sobre a vida, como um todo, mas especialmente sobre as inquietudes da mente, do corpo e da alma humana.
Virou um livro de cabeceira.
Bônus
O Lugar, de Annie Ernaux (Literatura francesa)
Coincidentemente cheguei a esta obra poucos meses antes da autora ser agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura.
Classificada pelos especialistas como uma autosociobiografia, a publicação resgata a vida e a morte do pai da autora para daí esmiuçar relações familiares e de classe, numa combinação original de história pessoal e sociologia.
O que mais me chamou atenção no estilo da autora é a escrita cortante, a 'estrutura infinita da obra' e a capacidade de resgatar acontecimentos do passado que passariam como banais para um observador, escritor ou leitor comum.
Como li tanto em 2022? Dica!
Se você quiser saber como eu faço para ler tantos livros, não vou te vender nenhum curso (agora). Apenas recomendo a leitura das indicações 4 e 3.
Reflexão
Por que será que eu não recomendei nenhum livro de gestão, empreendedorismo ou ESG?
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